Há uma moça presa em um vulcão.
Não é metáfora.
Não é exagero.
É só a realidade escancarando a sua indiferença.
Enquanto os dias passam, e os noticiários trocam de tragédia como quem muda o canal, há uma família com os nervos esmagados pelo peso do improvável. Eles acordam e dormem com um grito preso no estômago. Não um grito de desespero — esse já passou. Agora é o silêncio. O silêncio que faz eco dentro do peito.
Um silêncio kafkiano, sufocante, como se o mundo tivesse se tornado um tribunal onde ninguém mais sabe quem é o acusado, quem é o juiz ou se há alguma lei além da crueldade do acaso.
Imagine o que é amar alguém que está debaixo da terra, mas ainda visível. Como se a morte não tivesse tido a decência de fechar as cortinas. A vida dela está ali, congelada num segundo que nunca acaba. E a única coisa mais absurda que a morte é esse entrelugar onde não se morre, mas também não se vive.
Dostoiévski escreveu sobre isso sem precisar de vulcões. Ele chamou de sofrimento aquilo que escava a alma — não por fora, com violência, mas por dentro, com o peso lento da impotência. Uma dor que não explode. Ela mina, ela escorre, ela escava.
A família vive agora o tipo de luto que não tem corpo. E quem já perdeu alguém sabe: é quase impossível enterrar o que ainda olha pra você em sonho.
Talvez, hoje, o maior castigo seja justamente esse: continuar vivo, consciente, racional — diante de algo que ultrapassa qualquer lógica.
Se Deus está nos observando de longe, que Ele perdoe os que sentem raiva dEle hoje.
É difícil não sentir.
Mas talvez, se há alguma salvação nesse cenário, ela esteja na memória.
Na forma como essa jovem será lembrada — não como uma estátua no fundo da lava, mas como uma brasa acesa na alma dos que a amaram.
E talvez, só talvez… o inferno seja isso:
A Terra fingindo que ainda é céu, enquanto enterra vivos os seus melhores filhos.
E ainda assim… há uma esperança.
Por mais absurdo que pareça, por mais kafkiano que o mundo se mostre, há algo que persiste: a centelha irracional e profundamente humana de que ela volte. Que os socorristas a encontrem, que a rocha ceda, que o milagre aconteça.
Não porque o mundo seja justo. Não porque a vida costuma dar respostas felizes. Mas porque, às vezes, o impossível acontece só para provar que ainda podemos acreditar.
A família não está esperando apenas por um corpo. Estão esperando por um retorno. E mesmo que tudo diga o contrário — o tempo, a razão, a ciência — há um lugar no coração humano que resiste.
Porque onde há amor, há espera.
E onde há espera, ainda há vida.
Que ela volte.
Inteira ou ferida, mas viva.
Que essa história não termine como tragédia, mas como testemunho de algo que nos escapa, que nos desafia, que nos transforma.
Porque algumas almas são feitas de algo mais duro que pedra e mais quente que lava:
são feitas de esperança.
Esse texto está com um grande peso para mim, principalmente por saber que ela não sobreviveu 🥺
Belo texto, eu realmente espero que ela esteja bem.🙏