A verdade não salva: ela enlouquece | Abismo de Dostoiévski – Parte 3
Em Dostoiévski, quem toca na verdade não encontra paz, mas ruptura.
A verdade como faca
Vivemos repetindo que a verdade liberta. Que descobrir quem somos nos trará paz. Que conhecer os fatos nos trará segurança. Mentira. A verdade não acolhe. Ela fere. Ela arrebenta a máscara, corta o conforto, destrói a fantasia.
Dostoiévski não romantiza a revelação. Para ele, a verdade é uma lâmina. Não redime, enlouquece. A maioria prefere o consolo da mentira, a delicadeza da ilusão. Porque a verdade é intolerável. E quanto mais real, mais perigosa.
A lucidez, em Dostoiévski, é uma maldição. Quem vê demais não vive em paz. Ivan Karamázov pensa demais. O homem do subsolo sente demais. Raskólnikov entende demais. E todos afundam. Porque conhecer a verdade não é suficiente. É preciso suportá-la.
O colapso diante do real
A obra de Dostoiévski é repleta de personagens que colapsam quando a máscara cai. A verdade, para eles, não é um ideal — é um terremoto.
Ivan Karamázov
Intelectual, brilhante, cético. Rejeita a existência de Deus por causa do sofrimento das crianças. Mas seu raciocínio perfeito não resiste à própria consequência: se Deus não existe, tudo é permitido. E essa permissão o destrói. Ele enlouquece. Literalmente. Porque a razão sem fé é insuportável. A verdade fria não aquece, congela.Raskólnikov
Acredita que é um “homem extraordinário”. Mata para provar sua teoria. Mas a verdade que surge após o crime é brutal: ele é fraco, comum, humano. E não
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