A liberdade é o maior castigo do homem | Abismo de Dostoiévski – Parte 1
Diante da liberdade, o homem prefere entregar sua alma a um tirano.
A promessa que assusta
A liberdade é apresentada como o maior triunfo da nossa era. Somos bombardeados com slogans sobre autonomia, autorealização, empoderamento. Mas e se essa liberdade for apenas uma ilusão armadilha? Para Dostoiévski, a escolha irrestrita não liberta — ela aprisiona. Ele coloca frente a frente a promessa de não haver limites com o terror de estar completamente só.
Quando o “Grande Inquisidor” oferece abrigo ao cristianismo, ele oferece uma troca: “você pode renunciar à liberdade e viver em segurança sob minha autoridade”. As massas, ao invés de buscar a liberdade oferecida por Cristo, abraçam a tutela imposta. Preferem não ter de decidir — simplesmente obedecer.
No mundo moderno, essas sombras se reproduzem. Aceitar a liberdade é também carregar um fardo em que cada decisão ecoa pela vida — e isso paralisa. Melhor abrir mão, delegar, terceirizar tudo: à família, ao Estado, às redes. Liberdade? É um peso que poucos estão dispostos a carregar.
Visão dostoievskiana da liberdade
Dostoiévski não acredita no ideal de uma liberdade que se confunde com irresponsabilidade. Essa liberdade é enganosa, porque revela a ferida humana: autonomia sem propósito é angústia. Em Os Irmãos Karamázov, Ivan se recusa a obedecer um Deus que permite o sofrimento. Mas ao rejeitar o Criador, Ivan mergulha no desespero e perde a sanidade. A liberdade intelectual o arranca da realidade e o deixa solitário, fragmentado.
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